Escrito por Família Theia e Ricardo Lemos (psicólogo)
A adaptação escolar é um dos momentos mais marcantes para mães e pais, pois é a entrada da criança em um nova fase, na qual ganha certa independência da família e não está mais “sob os olhos” do seu cuidador primário.
Muitos não sabem o que esperar e como será esse processo, mas fato é que o medo da adaptação está primeiramente nos pais. Essa constatação não é para deixar os pais culpados, mas um alerta e uma oportunidade para os pais olharem suas dificuldades e medos com mais carinho e atenção. Quando os pais se cuidam, além de ficarem bem emocionalmente, ajudam inclusive seus filhos, o quais certamente se beneficiarão desses cuidados no presente e no futuro.
Por isso gostaria aqui de fazer um relato pessoal de como foi a adaptação escolar do meu filho. Ele estava com um ano e meio quando começou a escola e minha esposa não podia estar presente na adaptação dele. Ela trabalha na mesma escola e tinha aulas para dar no mesmo horário.
A ansiedade dela era tamanha com o processo, que meses antes me pediu insistentemente para acompanhar nosso filho durante toda a primeira semana de aula. Eu não entendia a fonte daquela preocupação, pois imaginava que eu daria um beijo e um abraço nele, talvez ele chorasse um pouco, mas logo a professora assumiria e ele iria brincar com as outras crianças.
Pela insistência, reorganizei a minha agenda por uma semana para passar as tardes na adaptação dele. Já nos primeiros minutos de aula ele estava adaptado: foi o tempo de ele olhar os brinquedos da sala e se sentir melhor do que em casa. Percebi que a minha calma e segurança transmitiam esses mesmos sentimentos para ele. Como eu já tinha me programado, passei a semana inteira lá e foi uma chance de conhecer as mães das outras crianças (falamos de todos os assuntos, desde os nossos filhos, até amamentação e supermercado). Eu era o único pai.
Os papeis de “pai” e “mãe” estão pré definidos na concepção da maioria das pessoas, e se um homem ousa fazer algo “materno”, ou uma mulher fazer algo “paterno”, tem que lidar com grandes desafios e preconceitos - eu sentia os olhares das outras mães questionando o que eu fazia lá e não a minha mulher. Essa é uma das primeiras crenças limitantes que precisamos reavaliar: a responsabilidade da criação dos nossos filhos é papel dos dois.
Nesse período na escola, notei que algumas crianças realmente tiveram dificuldade na adaptação. Ficou marcado na minha memória que quem teve mais dificuldade foi uma que estava acompanhada pela avó, pois os pais - nas palavras dela - não tinham tempo para ir na escola. Minha constatação por essa experiência, e pelo que vejo no meu consultório, é que pais, em geral muito atarefados, delegam suas funções para terceiros (avós, babás, etc) e isso tem um preço emocional tanto para os pais quanto para os filhos. É preciso saber o que podemos delegar - afinal pedir ajuda é importante - e o que é fundamental que sejamos nós a fazer.
Como contei no início, eu não entendia a importância de eu estar presente e fui a pedido da minha esposa. Portanto, não estou aqui dizendo que são os pais que precisam fazer a adaptação escolar, mas ter tempo de qualidade com as crianças e reservar na nossa agenda tempo exclusivo para elas é sim muito importante.