Escrito por Família Theia e Danielle Domingues (ginecologista e obstetra)

É preciso entender os eventos que ocorrem no início da gravidez e definir o que é aborto para, assim, entendermos as chances dele ocorrer em cada fase da gestação. Considera-se aborto toda gestação que termina antes das 20 semanas ou com feto pesando menos de 500g. Ele ocorre em 8 a 20% das gestações diagnosticadas e em 80% dos casos, antes das 12 semanas. Se forem consideradas as perdas antes mesmo do diagnóstico da gestação ou do atraso menstrual, essa taxa pode chegar a 31%.

Como ocorre a gravidez e a evolução do bebê?

A gravidez ocorre quando o casal tem relação sexual no período fértil e o espermatozóide encontra e se une ao óvulo, formando o que chamamos de zigoto, iniciando assim a multiplicação das células, que darão origem ao embrião. Normalmente, essa fecundação ocorre na tuba uterina da mulher e após, o óvulo fecundado se encaminha até o útero onde irá se implantar, ou seja, se fixar na parede uterina. Uma vez implantado, as células continuam a se multiplicar e crescer, formando o saco gestacional, a vesícula vitelínica (responsável por nutrir o embrião nas primeiras semanas) e o embrião. Com 4 semanas de gestação, o coração já iniciou sua formação e seus primeiros batimentos, porém ainda não é possível visualizar isso por ultrassom.

No ultrassom, normalmente vemos os primeiros indícios de gestação após as 5 semanas de gravidez, sendo visualizado primeiro o saco gestacional, após uns dias, a vesícula vitelínica e, por último, o embrião, em torno de 6 a 7 semanas. E só quando ele atinge 7 mm que é garantido ver os batimentos cardíacos (normalmente acelerados nessa fase, em torno de 160 bpm). Com 10 semanas, termina a fase embrionária, a cauda desaparece e funde-se a coluna vertebral, ficando com uma aparência mais humana, sendo chamado de feto. Com 12 semanas as principais estruturas já foram formadas, sendo realizado o exame morfológico.

Qual o risco de aborto e quais os sinais?

Quando alguma dessas etapas não ocorre adequadamente, existe uma maior chance de abortamento, sendo a principal causa conhecida, ou de alterações cromossômicas que levam a malformações. Normalmente, alterações graves levam a perdas mais precoces, portanto, conforme a gestação evolui, o risco de aborto reduz em média 1% a cada semana, sendo próximo a 10% com 7 semanas e a 2% com 14 semanas, variando um pouco em cada estudo.

A presença de sangramento vaginal pode ser um sinal desfavorável, pois quando presente aumenta em mais de 2 vezes o risco de aborto, principalmente quando os achados no ultrassom não são compatíveis com a fase da gravidez. Outras alterações no ultrassom também podem representar maior risco de evolução desfavorável como saco gestacional pequeno nas primeiras semanas e batimentos cardíacos fetais lentos (em torno de 100-110 bpm).

Além disso, outros fatores como idade materna avançada, doenças prévias, tabagismo, principalmente acima de 10 cigarros por dia, e consumo de bebida alcoólica podem aumentar as chances de aborto. Antes dos 20 anos as taxas de aborto são em torno de 4%, aumentando para 20% após os 35 anos.

Portanto, apesar de não ser possível prevenir todos os abortamentos, alguns cuidados podem ajudar a reduzir seu risco, como:

  • Realizar seguimento médico adequado antes de engravidar (consulta pré-concepcional) e na gestação;
  • Iniciar suplementação de ácido fólico 3 meses antes de engravidar (ajuda a prevenir defeitos de fechamento do tubo neural, ou seja, da coluna do bebê);
  • Controlar adequadamente as doenças já existentes ou diagnosticadas na consulta pré-concepcional;
  • Atualizar as vacinas antes de engravidar e durante a gestação conforme orientação médica;
  • Manter o peso adequado (os extremos podem ser prejudiciais);
  • Manter hábitos de vida saudáveis com dieta balanceada, hidratação abundante, atividade física regular e evitar cigarro, álcool e drogas.