Escrito por Família Theia e Aline Hessel (psicóloga e educadora parental)

O ato de mentir é um comportamento natural e até certo ponto, esperado na infância. Porém, devemos ficar atentos com a função daquela mentira e o contexto em que ela foi usada.

As crianças, até mais ou menos os 7 anos (às vezes um pouco mais), podem (e devem) fantasiar histórias, lugares ou pessoas muitas vezes com o objetivo de experienciar realidades diferentes (ter um irmãozinho por exemplo), suprir necessidades (ter mais atenção), realizar desejos (visitar lugares), vivenciar um lado fictício que não significa que elas estejam fora da realidade. A intenção da mentira aqui não envolve enganar o outro ou má fé (a não ser enganar a si próprios). Mas sim uma tentativa de reajustamento a realidade, sendo até mesmo desnecessária a presença de um adulto para compartilhar suas fantasias.  Apenas, estão confabulando e com isso contribuindo com o desenvolvimento da própria criatividade.

Mas é importante a observação, mesmo que distante, dos pais com relação a essas mentiras ou fantasias. As crianças, através dessas descrições, transparecem suas necessidades não atendidas, ou mesmo experiências que estão vivenciando. Sendo possível através desse conteúdo, pensar em como ajudar a criança em seu desenvolvimento, caso apareça algo relevante.

Porém, não é apenas através da fantasia que a mentira aparece na infância. Ela também pode revelar o sentimento de medo ou a tentativa de se preservar quando por exemplo vivenciam uma educação coercitiva ou muito rígida. Pais muito exigentes, que utilizam da punição como ferramenta de educação, tendem a ter filhos que usam da mentira para não se exporem a punições ou castigos.

Mesmo a mentira e a fantasia andando juntas, os pais devem estar atentos e orientar de forma clara e objetiva as crianças sobre a honestidade. A partir dos 4 anos, é possível começar a ensinar tais definições através de livros, histórias, usando o mundo lúdico da criança. É algo que deve ser ensinado desde pequenos, com paciência e acolhimento, diminuindo assim as chances desse comportamento aparecer no futuro. Será comum as crianças testarem, até mesmo para saberem quais serão as consequências ou até onde podem ir com a mentira. Reforço que punição e castigos não serão o caminho mais promissor na resolução desse problema, pois tendem a fazer a criança mentir para evitar tais consequências. Será através do diálogo e exemplos que será possível manter um canal aberto de comunicação e assim permitir que as crianças se sintam à vontade e confiantes para se abrirem com seus responsáveis.

Ainda assim, caso a mentira se torne um comportamento frequente, mesmo com abertura para o diálogo, será importante uma avaliação de um profissional para uma melhor condução da situação pela família.