Escrito por Família Theia e Aline Hessel (psicóloga e educadora parental)

Estamos vivendo um momento muito intenso do ponto de vista emocional decorrente da pandemia do Covid-19 e suas consequências. Além do isolamento social, um dos pontos que tem trazido muita angústia é com relação à morte e ao processo de luto. Com o número crescente de infectados e também mortos, será muito comum ter parentes, amigos ou conhecidos que faleceram por essa doença. No meio corporativo, haverá a possibilidade de parentes dos colegas de trabalho, ou até mesmo funcionários, virem a óbito. Com o alto grau de contaminação, os velórios têm sido restritos... isso quando eles acontecem. Impossibilitando a concretização de um rito de passagem importante em nossa cultura, podendo assim impactar de forma negativa na saúde mental das pessoas próximas. Dessa forma, é possível pensar qual o papel do ambiente profissional e quais cuidados podem ser tomados para amenizar os danos decorrentes dessa situação?

Sob o risco de contaminação pelo Covid-19, algumas etapas que seriam fundamentais no processo de construção de sentido e aceitação da perda foram suspensas: não há o acompanhamento do doente em seus últimos dias no hospital, velórios foram interrompidos, os sepultamentos são rápidos com poucos familiares e à distância, além dos caixões serem lacrados, o que tornou difícil se despedir. Estes rituais têm um papel importante, pois são espaços protegidos e autorizados para a manifestação da dor, com a possibilidade de receber o apoio social. O processo é muito individual e as reações são diversas, mas a perda pela Covid-19 é um fator de risco potencial para um luto traumático, justificando a atenção na sua condução pela comunidade de apoio ao enlutado, que deve ser delicada e sensível.

Além disso, deve-se considerar a possibilidade de um membro da própria empresa vir a falecer. O impacto disso pode trazer consequências para os outros colaboradores, como sentimento de tristeza, desmotivação, desânimo, risco de Burnout e despersonalização, sendo necessário um trabalho específico de identificação e acolhimento aos afetados.

No caso, o ambiente profissional pode ser considerado uma face de apoio a essas pessoas, uma vez que o fortalecimento das redes socioafetivas, do compromisso e da solidariedade entre as pessoas, demonstra ser essencial para enfrentar os desafios, tanto durante quanto após, a validade da pandemia. Dessa forma, é importante que o local de trabalho seja um espaço em que as pessoas se sintam protegidas e assim possam manifestar suas dores.

O apoio a quem está de luto é fundamental, independente da maneira como é expressada e tem um papel importante na regulação emocional do indivíduo. Existem diferentes formas de demonstração de apoio que podem auxiliar as pessoas a se despedirem dos que faleceram e a se apoiarem mutuamente, ainda que de forma distante ou virtual, repercutindo na elaboração social da morte e do morrer.

Sendo assim, seguem algumas sugestões como alternativas de acolhimento que podem ser feitas no ambiente profissional:

  • Ambiente profissional preparado para o acolhimento pós pandemia, com profissionais especializados;
  • Flexibilização de horários de trabalho e atenção às exigências de desempenho das pessoas enlutadas;
  • Espaço para compartilhar sentimentos, pensamentos e lembranças da pessoa falecida;
  • Mensagens de apoio, presenciais ou por escrito,
  • Ligação como demonstração de cuidado;
  • Não deixe a pessoa sozinha em sua dor, a menos, é claro, que ela queira, o que deve ser respeitado;
  • Incentive o enlutado a buscar suas redes de apoio socioafetivas;
  • A expressão de sentimentos de luto nas redes sociais pode ser considerada como alternativa para lembrar e homenagear o falecido;
  • Compartilhar um momento coletivo de homenagem a vítima;
  • Rituais alternativos relacionados à espiritualidade também podem ser incentivados, o que inclui celebrações religiosas virtuais;
  • Além de oferecer o suporte emocional, ofereça ajuda em outras áreas também. Será que a pessoa precisa que alguém leve alimento, faça compras ou algo semelhante?

É importante também respeitar as reações que cada pessoa pode apresentar bem como o tempo que cada uma irá precisar para se restabelecer, isso é particular para cada um. Porém, caso alguém perceba que a intensidade do sofrimento ou mesmo que após um longo período o luto está atrapalhando a continuidade das funções da vida da pessoa, incentive-a a buscar ajuda especializada de um psicólogo. Nem sempre será necessário buscar a ajuda terapêutica especializada. A maior parte das pessoas são capazes de resolver suas dificuldades com o luto acessando sua rede de apoio na comunidade, como amigos e familiares.

A principal mensagem a ser passada é a de que a pessoa não precisa sofrer sozinha e nem ter medo ou vergonha de demonstrar suas emoções bem como de pedir ajuda.