Escrito por Família Theia e Danielle Domingues (ginecologista e obstetra)
É conhecido que mulheres grávidas devem evitar ingerir bebida alcoólicas, porém muitas vezes isso é associado ao consumo excessivo e rotineiro, não sendo incomum ouvir que uma taça de vinho esporadicamente não tem problema. É importante frisar que não existe dose de álcool considerada segura na gravidez e mulheres que desejam engravidar, devem ser orientadas a não ingerir álcool desde o início das tentativas. Isso porque o álcool passa para o bebê através da placenta e na maioria das vezes, a gestação só é descoberta entre a 4ª e 6ª semana da gestação, fase em que parte da formação do bebê já aconteceu, principalmente do sistema nervoso central.
Assim, além de malformações, a ingestão de álcool na gestação pode causar aborto, óbito fetal (perda da gravidez após as 20 semanas), prematuridade e baixo peso ao nascer, além de uma série de deficiências físicas, comportamentais e intelectuais ao longo da vida, conhecidas como desordens do espectro alcoólico fetal. Essa condição engloba diversas possíveis alterações, como:
- Malformações faciais típicas e microcefalia (cabeça pequena);
- Alterações de sono e sucção no bebê;
- Baixa estatura e baixo peso;
- Problemas de visão e audição;
- Alterações no coração, rim ou ossos;
- Comportamento hiperativo, déficit de atenção, memória e aprendizado;
- Má coordenação, atraso na fala e linguagem;
- Déficit intelectual ou baixo QI, problemas com raciocínio.
Tais alterações podem variar de graus leves a severos, podendo ser diagnosticados somente durante a infância, quando a criança entra na escola e duram a vida toda. O gráfico abaixo demonstra a diferença de QI em crianças que não foram expostas ao álcool durante a gestação (grupo controle) e nas que tiveram exposição baixa ou diagnosticadas com síndrome alcoólica fetal, demonstrando que mesmo doses menores podem interferir no desempenho intelectual.
Apesar do apoio de diversos profissionais ajudar, não existe tratamento efetivo, sendo primordial sua prevenção com a não ingestão da bebida alcoólica durante toda a gestação. Esse cuidado deve ser mantido na amamentação, pois o álcool passa para o leite materno e seu consumo excessivo pode causar diminuição na produção de leite e alterações neurocomportamentais no bebê.
Apesar de todas as orientações, muitas mulheres continuam bebendo durante a gestação. No Brasil, estima-se que 15 a 25% das mulheres consomem álcool na gestação e a prevalência da síndrome alcoólica fetal é de 20 a 30 em 10.000 mulheres. Por isso, é importante tirar as dúvidas e conversar com seu médico durante o pré-natal.