Escrito por Família Theia e Danielle Domingues (ginecologista e obstetra)

O período pós-parto, também conhecido como puerpério, é o período de seis semanas após o parto, em média, no qual o corpo da mulher volta ao estado anterior à gravidez. É fundamental que a mulher seja bem acompanhada e tenha suporte adequado, pois além das mudanças no próprio corpo e em seu humor, ela enfrenta uma nova rotina com o bebê.

1. Cuidados durante a internação

Os cuidados se iniciam logo após o parto e continuam durante a internação hospitalar e após a alta, variando de acordo com as modificações esperadas em cada fase. Na primeira hora após o parto, no qual a mulher ainda está na sala de parto ou de recuperação, é fundamental a vigilância de sangramento vaginal, pois é o período de maior risco de hemorragia. Além disso, sempre que possível, recomenda-se o estímulo à  amamentação e ao contato pele a pele com o bebê (a primeira hora após o nascimento é conhecida como golden hour, ou hora de ouro, importante para o vínculo da mãe e do bebê).

Durante a internação, que normalmente dura 2 a 3 dias, é o período para entender as principais alterações do pós-parto e os cuidados a serem tomados, pois sempre haverá auxílio da equipe médica e de enfermagem. O sangramento que se inicia logo após o parto, chamado de loquiação, pode durar por todo o puerpério, mudando suas características e diminuindo sua intensidade, sendo que nos primeiros 3 a 5 dias é mais intenso e vermelho vivo, após isso vai reduzindo a quantidade, ficando inicialmente mais escuro e após, amarelo e transparente. O uso de absorvente pode ser usado, mas recomenda-se trocá-lo várias vezes ao dia, dar preferência aos de algodão e evitar o uso de absorvente interno, principalmente nas primeiras 2 semanas a fim de reduzir o risco de infecções.

Assim que permitido, é importante caminhar no quarto para ajudar na prevenção de trombose (maior risco no puerpério), além de ajudar na melhora da constipação intestinal e na liberação de gases, que são muito comuns e podem causar desconforto e dor abdominal. Nos primeiros dias, é comum sentir cólica, principalmente ao amamentar, devido ao hormônio liberado na amamentação (ocitocina), que age contraindo o útero o que contribui para prevenção de hemorragia. Como o útero fica aumentado de tamanho após o parto, próximo à cicatriz umbilical, a cólica é mais perceptível nos primeiros dias. Com a redução do útero, em média de 1 cm por dia, ele se torna intrapélvico (dentro da bacia da mulher) e após 2 semanas em média, o incômodo reduz bastante. Lembrando que sempre serão prescritas medicações para controle de dor nos primeiros dias após o parto.

Em caso de cesárea, a cicatriz deve ser lavada com água e sabão pelo menos 1 vez ao dia e mantida sempre seca, a cicatrização da pele ocorre em 7 a 10 dias normalmente. No parto normal, é comum ocorrer inchaço na região genital, que normalmente melhora em 2 a 3 dias espontaneamente, porém fazer compressa gelada no local pode ajudar. Caso ocorra laceração de canal de parto ou episiotomia, não tenha medo de ir ao banheiro, só é importante saber que ardência ao urinar pode ser comum nos primeiros dias e melhora espontaneamente. O importante é sempre lavar com água e sabão após ir ao banheiro e evitar o uso de papel higiênico a fim de prevenir inflamação dos pontos.

Ainda no hospital, é sempre solicitado a tipagem de sangue da mãe e do recém-nascido e caso a mãe seja Rh negativo e o bebê Rh positivo, o médico deve prescrever uma vacina (imunoglobulina anti-D ou Rhogan) até 72h após o parto para prevenir a formação de anticorpos contra o sangue do bebê e evitar problemas em uma nova gestação. Outras vacinas como sarampo, caxumba e rubéola, que não podem ser realizadas na gestação, se indicadas, podem ser administradas no puerpério, normalmente após a alta.

2. Cuidados durante o Puerpério

Durante todo o período de puerpério é fundamental beber bastante água, manter a dieta balanceada e tomar o polivitamínico recomendado pelo médico (normalmente o mesmo da gravidez), pois além de ajudar na recuperação do parto, é importante para adequada produção de leite e evitar problemas na amamentação, uma vez que amamentar gasta em média 900 kcal/dia. Aliás, durante a internação é super importante tirar dúvidas sobre amamentação e aprender a pega correta, pois a sucção adequada do bebê é o principal estímulo para produção do leite. Inclusive, é essencial lembrar que o primeiro leite produzido pela mãe é o colostro, que tem coloração mais amarelada e é rico em nutrientes fundamentais para os primeiros dias do bebê. Só a partir do 3º ao 5º dia pós parto que ocorre a apojadura, ou seja, a descida do leite maduro, sendo comum as mamas ficarem quentes e inchadas, além de aumentar o volume de leite produzido. É imprescindível saber que não é incomum ter dificuldades na amamentação, caso isso ocorra, peça orientação a seu médico e se necessário, existem consultoras de amamentação (normalmente enfermeiras obstetras) que podem auxiliar muito no processo.

O retorno à atividade física depende do tipo de parto e da recuperação de cada mulher, devendo sempre ser orientado pelo médico o melhor período para retornar e o tipo de atividades permitidas. Em geral, no parto normal é permitido caminhada e atividades leves após 2 semanas, já na cesárea esse tempo costuma ser mais prolongado. Fisioterapia pélvica pode ajudar nesse retorno e na recuperação do períneo e do corpo em geral, inclusive na melhora da diástase abdominal (afastamento dos 2 músculos do abdome), muito comum na gravidez.

Para o retorno às relações sexuais, normalmente recomenda-se aguardar as seis semanas de puerpério, porém mesmo após a liberação médica, ela só deve ocorrer quando a mulher se sentir confortável e preparada. Pois, além das alterações hormonais causadas pelo pós-parto e amamentação, que podem causar redução de libido e ressecamento vaginal, as mudança da rotina e a preocupação com o bebê pode fazer com que a mulher prefira aguardar mais tempo para voltar a ter relações sexuais. É importante saber que para o ressecamento vaginal existe lubrificante e hidratante vaginal que podem ajudar, mas o mais importante é sempre conversar com o médico e, principalmente, com o seu parceiro.

Além disso, a preocupação com a possibilidade de uma nova gravidez pode contribuir com o medo de retornar à vida sexual, por isso é importante conversar com o médico sobre contracepção. Durante a amamentação não é indicado o uso de métodos que contenham estrogênio, porém existem diversas formas de anticoncepção sem hormônio ou somente com progesterona, que são seguras e podem ser iniciadas, normalmente 30 a 40 dias após o parto.

O suporte emocional do parceiro ou de alguém próximo é fundamental para auxiliar nas mudanças de humor e sentimentos que podem ocorrer nesse período. O baby blues, comum nos primeiros 15 dias, pode ocasionar oscilações de humor e sensação de tristeza e choro fácil e costuma melhorar após esse período. Caso esses sintomas permaneçam, é importante avaliação para diferenciar de uma possível depressão puerperal.

Saiba mais sobre baby blues e depressão pós-parto.

A consulta de retorno do pós-parto varia de acordo o médico e a paciente,  mas em casos de sinais de alarme (descritos na tabela abaixo) pode ser necessária avaliação complementar. Ter apoio da equipe médica e, principalmente, do parceiro ou alguém próximo é fundamental para passar por esse período de forma leve e mesmo com todas as mudanças, curtir esse momento tão especial que é formar uma nova família.

Deve-se atentar aos seguintes sinais de alarme:

  • Sangramento vaginal intenso com presença de coágulos ou com odor fétido
  • Febre (>37,8º C)*
  • Dor abdominal intensa
  • Alterações na ferida operatória (dor, vermelhidão ou saída de secreção)
  • Alterações na mama (dor, vermelhidão e endurecimento)
  • Ardência para urinar
  • Falta de ar ou dor no peito, dor ou inchaço na perna
  • Dor na perna e inchaço ou vermelhidão
  • Tristeza ou cansaço extremos

*Sempre aferir temperatura oral, pois a amamentação pode aumentar a temperatura axilar.