Escrito por Família Theia e Dra. Danielle Domingues (ginecologista e obstetra)

Normal e esperado, o ganho de peso na gestação atua como um marcador não só do crescimento do bebê, mas também de alerta sobre possíveis complicações. Entre elas, o diabetes e a pressão alta.

Além desses riscos comuns associados a toda gestante – que você poderá ver com mais detalhes em nossa matéria "Cuidados com o ganho de peso na gravidez" –, outras questões podem surgir quando há distúrbio de peso.

Para falar sobre o assunto, apresentamos as implicações ligadas tanto à obesidade quanto ao ganho de peso abaixo do esperado.

A obesidade na gestação

A obesidade na gravidez – Índice de Massa Corpórea (IMC) ≥30 kg/m² – está associada a maiores dificuldades antes, durante e depois do parto, como você pode ver a seguir:

1. Período pré-gestacional e gravidez

Pode ocorrer maior dificuldade para engravidar, pois as mulheres obesas costumam ter ciclos menstruais irregulares e longos, além da maior chance de já terem doenças crônicas como apneia do sono, hipertensão e diabetes tipo 2, que demandam cuidados especiais durante toda gestação.

E, durante gravidez, também existe um risco aumentado de aborto precoce, malformações fetais, parto prematuro, gestação gemelar dizigótica (fetos diferentes), diabetes gestacional e pré-eclâmpsia. Todas essas situações demandam cuidado e seguimento rigoroso, pois representam risco para a mãe e bebê.

2. Durante o parto

Gestantes obesas geralmente têm um trabalho de parto mais prolongado e maiores taxas de falha de indução, o que aumenta a necessidade de se realizar uma cesárea.

Além disso, a monitorização dos batimentos fetais, essencial durante o acompanhamento do trabalho de parto, pode ser dificultada e, em nos casos de obesidade grave, até impossibilitada.

A anestesia, tanto para parto normal quanto para a cesariana, também tende a ser mais difícil tecnicamente e está associada a maiores complicações.

3. Pós-parto

Depois do parto, é necessário atenção e cuidado especiais na prevenção de trombose venosa, infecção e depressão pós-parto, já que a obesidade está associada a maior ocorrência dessas doenças.

E quando o ganho de peso é abaixo do esperado?

Como tudo na vida, nenhum extremo é benéfico para a gestação. Assim, o ganho de peso abaixo do esperado também não é recomendado, pois tem maior associação ao parto prematuro.

O bebê também pode apresentar baixo peso ao nascer, o que aumenta os riscos de ele desenvolver doenças metabólicas e sobrepeso/obesidade na vida adulta.

Para garantir um bom acompanhamento, é importante identificar se existe algum fator que contribua para o ganho de peso insuficiente. Entre eles, náuseas, vômitos e doenças pré-existentes como cirurgia bariátrica prévia, refluxo gastroesofágico e gastrite, além de alergias ou dúvidas em relação a alimentação e distúrbios alimentares.

Nem sempre é fácil falar ou identificar os distúrbios alimentares, mas é importantíssimo conversar com o obstetra sobre isso, pois ele poderá interferir diretamente na saúde da mulher e do bebê e esse período, apesar de difícil, pode ser uma oportunidade de realizar o tratamento correto e se recuperar.

Os casos de anorexia nervosa e bulimia

Mulheres com anorexia nervosa podem ter dificuldade para engravidar, pois grande parte fica sem menstruar por longos períodos. E quando a gravidez ocorre, devem contar com atenção especial, pois as mudanças que ocorrem no organismo materno podem ser angustiantes, levando a dieta e ganho de peso inadequados, o que traz implicações como já comentamos antes.

Além disso, gestantes deste grupo estão mais suscetíveis a desenvolver depressão na gravidez e no pós-parto, sendo essencial o acompanhamento multidisciplinar (nutrição e psiquiatria) durante toda a gestação.

Já a bulimia nervosa parece não ter associação com dificuldade para engravidar nem com ganho de peso inadequado, pelo contrário, na maioria das vezes o ganho de peso é até acima do recomendado.

No entanto, o risco de abortamento parece ser maior e a angústia em relação às mudanças corporais e a depressão também estão presentes frequentemente, assim como no transtorno de compulsão alimentar.