Escrito por Família Theia e Aline Hessel (psicóloga e educadora parental)

Se tem algo que podemos afirmar é que de todas as experiências de vida, a morte impõe os desafios adaptativos mais dolorosos para uma família. Tanto como sistema como também individualmente para cada um dos seus membros. A morte de um membro da família rompe o equilíbrio familiar e traz à tona a necessidade de surgirem novos mecanismos para restabelecer esse equilíbrio.

Quando tratamos ainda do luto na infância, é comum as pessoas acreditarem, que não falar sobre a morte com a criança torna-se uma atitude de proteção, com a crença de que deixar de falar sobre o tema estará poupando o sofrimento da criança. Porém, esta atitude corrobora para que sentimentos negativos de rejeição, desamparo e abandono cresçam fazendo a criança se sentir confusa e sem ter com quem conversar.

As famílias ao permitirem que as crianças continuem em casa, onde ocorreu a morte de alguém, e participem da conversa, das discussões e dos temores, faz com que não se sintam sozinhas na dor, dando-lhes uma responsabilidade e luto compartilhado. É uma percepção gradual, um incentivo para que encarem a morte como parte da vida e uma experiência que pode ajudá-las a crescer e amadurecer.

Entretanto é importante levar em consideração a faixa etária da criança e seu nível de compreensão. A forma como será transmitido para a criança deve respeitar seu desenvolvimento cognitivo, mas uma coisa é certa: independente da faixa etária a morte deve ser falada, por mais difícil que seja. Esclarecer para a criança que ela não precisa esquecer esse ente querido, que será nas lembranças que manteremos o afeto por eles. Assim haverá espaço para compartilhar, medos, tristezas, dor e vivenciar o luto de forma positiva. Da mesma forma falar com a criança de maneira fantasiosa não favorece o desenvolvimento cognitivo e nem a elaboração do conceito de morte.

O ambiente em que a criança está inserida e a forma como as pessoas lidam com a morte será significativo na maneira com que ela irá vivenciar o luto. Encontrar no seio familiar um lugar para externalizar sua dor, elaborar o luto, e dar um novo significado para a perda é fundamental para o desenvolvimento saudável.Sendo assim ressalto a importância de um acompanhamento psicoterápico pela família durante um processo de luto, visto que esta influencia diretamente na percepção da criança sobre a perda, de modo que a família também consiga acolher a criança durante esse processo, para que a mesma não se sinta desamparada.

Grande parte da sociedade compartilha a percepção de que a morte é uma realidade muito distante da infância e, por isso, torna-se tão difícil falar sobre ela nesta fase da vida. Entretanto não apenas deve-se falar como também respeitar a criança na maneira de se falar, além de permitir um espaço para trocas e acolhimento.