Escrito por Família Theia e Aline Hessel (psicóloga e educadora parental)

A infância é o período em que “treinamos” com as brincadeiras as situações que iremos desempenhar quando adultos. Crianças costumam brincar de imitar profissões (médico, professor, dentista, etc.) e também aquilo que observam os pais fazendo (imitar papai e mamãe, namorados, por exemplo) sendo isso apenas uma situação do imaginário infantil. Ou seja, a criança ao afirmar que algum amigo(a) é seu (sua) namorado(a), pode ser apenas um interesse lúdico de brincar, pois tende a imitar e reproduzir o que observa no modo de vida de adulto, sendo algo normal ou aceitável.

Dentro desse aspecto, pode haver também a interpretação da criança diante de seus sentimentos e dúvidas. À medida que se desenvolve e amadurece, a criança percebe que o outro é capaz de despertar sentimentos diversos nela própria, tais como raiva, amizade, inveja, admiração e também interesse, carinho e afeto. O que há por trás do "namoro" pode ser justamente o sentimento que a criança reconhece que o outro desencadeia nela. Ou seja, quando a situação se apresenta de uma forma além da própria compreensão da criança ela irá buscar adaptações para elaborar essa situação de acordo com a sua idade (chamando de namorado algum amigo que ela “gosta muito”, porque os pais a ensinaram que namorado é alguém do qual “gostamos muito”). Eis uma excelente oportunidade para ajudar seu filho a se conhecer cada vez melhor, a entender e valorizar seus sentimentos, assim como valorizar e respeitar o outro, ensaiando para a vida adulta. Portanto, cabe ao adulto entender a partir do contexto da criança, não do seu, tendo consciência que não há problemas quando parte da criança essa nomeação. Carinho é importante em qualquer idade, assim como estimular a imaginação e os vínculos afetivos. Entretanto, não se deve forçar nada, nem incentivar o excesso, mesmo que seja de carinho.

É importante compreender que essa é uma situação natural do desenvolvimento e curiosidade infantil, que não deve nem ser tolhida e nem estimulada. Muitas vezes, elogiar a criança nessas situações, achar graça ou mesmo estimular certas atitudes pode na verdade acabar incentivando posturas do mundo adulto à criança. Neste caso, fica claro que a criança foi destituída de seu sentir infantil, de seu namoro da criança, que tem uma conotação completamente diferente da do namoro do adulto. O namoro e o gostar do adulto cabe ao adulto. A situação deve ser compreendida a partir do contexto na qual se apresenta, ou seja, o infantil. Não se pode entrar no mundo da criança e trazê-la para o universo adulto, pois ela não tem ferramentas para isso, além ainda de poder prejudicar o desenvolvimento de valores e sentimentos que irão permear sua vida. Um dos maiores riscos, caso se estimule a um namoro precoce, é a erotização. Muitas vezes, quando a criança diz estar namorando alguém, ela fala isso sem entender as minúcias de uma relação. Se os adultos começam a estimular, falando do que é possível ou não no namoro, os pequenos podem ter comportamentos de adultos, gerando conflitos psicológicos e o que chamamos de “abreviação da infância”. Portanto, deve-se ter muito cuidado com esta atitude

Os pais e a escola podem desempenhar um papel fundamental no processo de orientar as crianças sem reprimi-las. O ideal é agir com naturalidade, não precisa ser abusivo, nem mesmo reclamar, bem como não é necessário filmar ou fotografar, porque dessa forma haverá o incentivo do feito. É preciso entender que estas atitudes não devem ser polêmicas porque são naturais e fazem parte do crescimento, mas com limites e orientações.