Escrito por Família Theia e Aline Hessel (psicóloga e educadora parental)
O ser humano vive em constante mudança, se reestruturando e absorvendo o desenvolvimento e a evolução social em diferentes áreas (politica, psicológica, etc). Sendo assim, as mudanças também podem ser aplicadas aos padrões familiares. Percebe-se a cada dia novas estruturas parentais e conjugais, como exemplo as famílias monoparentais, poliafetivas, coparentais, multiparentais. Portanto, seria muito restrita ou limitada a transmissão de uma visão predeterminada ou estereotipada sobre as famílias.
A partir desse ponto de vista podemos pensar que as datas e comemorações devam estar alinhadas à realidade do tempo e espaço em que os indivíduos vivem, considerando principalmente as crianças ao que se refere à formação de um sujeito crítico e atuante na sociedade. Desta forma questiona-se o quão significativa estas datas são para as crianças e de que forma interfere no seu desenvolvimento, considerando suas particularidades no atual contexto social.
Sendo assim, deve-se reconhecer que vivemos numa sociedade cada dia mais diversa, plural e democrática e a educação de nossas crianças deve prepará-las para esse mundo. Ou seja, é necessário questionar o real significado das celebrações de tais datas e seus objetivos, uma vez que necessitamos muito mais que apenas celebrações para emocionar as famílias ou um consumo desenfreado. Vemos por exemplo, a atual necessidade de superar padrões estereotipados das relações de gênero e do modelo familiar único, que tem como principal consequência o preconceito e até mesmo a violência. O contexto atual requer o reconhecimento dos diversos arranjos familiares da contemporaneidade, o que possibilitará a reflexão e problematização do conceito de família, ampliando o repertório para discutir gênero, diversidade sexual e direitos humanos e a partir disso quem sabe, diminuir a violência relacionada ao que é “diferente”. (SANTA CATARINA, 2014, p.61)
É necessário fazer-se entender quais são as prioridades ao educar uma criança a partir da vivência de sua cultura. A família deve ficar contente ao ver seus filhos aprendendo com as diferenças e socializando ou apenas saindo bem nas fotos das apresentações?
Por isso, muitas escolas acabaram com as tais festas do dia das mães e dos pais e instituíram o dia da família, comemorado em uma data aleatória. Nessa festa, o foco é celebrar quem cuida, acolhe e educa essa criança: são avós, tios, padrinhos, uma mãe-solo, um pai-solo, dois pais, duas mães e até, olha só, um pai e uma mãe. Em tese, toda criança tem alguém, ou várias pessoas, e elas merecem ser celebradas. Se eu fico triste por não ter festinha de dia das mães na escola do meu filho? Ora, ora, eu já sou adulta, sei lidar com as minhas frustrações (Laiuskas, 2017).
Muitas escolas, por exemplo, já entenderam que nem todos os alunos possuem o padrão centralizado de família e quando expostos a estas comemorações, acabam por não se sentir parte de um todo. Muitos professores se viam sem saber o que dizer para aqueles que têm outra configuração familiar. Sem o pai, sem a mãe, criado pelos avós, com duas mães, com dois pais, dentre tantas outras realidades. Como seria dar conta de todos esses movimentos? (Bueno, 2017).
Por isso a pergunta que fica é: o que de fato queremos para o nosso futuro? E será que precisamos dessas datas para isso?