Escrito por Família Theia e Danielle Domingues (ginecologista e obstetra)

O tabagismo é um problema mundial e seus malefícios à saúde são amplamente conhecidos. Durante a gestação existe uma preocupação ainda maior pois esse hábito pode trazer riscos para mãe e bebê. Por isso, toda mulher que deseja engravidar, deve ser estimulada a parar de fumar o quanto antes, idealmente antes de iniciarem as tentativas de gravidez. Caso a mulher continue fumando após engravidar, se ela conseguir parar com o hábito em qualquer fase da gestação, ainda poderão ser observados benefícios (que são maiores antes das 15 semanas).

O cigarro contém mais de 400 substâncias tóxicas, das quais aproximadamente 30 são nocivas, sendo nicotina a principal. Cigarros eletrônicos e outros produtos contendo nicotina são igualmente prejudiciais à gestação, pois, durante a gravidez, a concentração de nicotina no compartimento fetal (placenta, líquido amniótico e sangue do bebê) fica maior que no sangue da mãe, uma vez que essa substância não consegue ser eliminada. Isso leva a um aumento progressivo na sua concentração enquanto a exposição continuar ocorrendo.

Durante a gravidez, mulheres tabagistas têm maior risco de aborto e óbito fetal, alterações na tireoide, trabalho de parto prematuro (parto antes das 37 semanas), alterações na formação e funcionamento da placenta, como placenta prévia e descolamento prematuro de placenta, que podem causar sangramento vaginal na segunda metade da gravidez e ocasionar graves complicações para mãe e bebê.

Os riscos fetais incluem prematuridade e restrição de crescimento fetal (bebê com crescimento abaixo do esperado), com todas suas consequências associadas, maior risco de fenda palatina (lábio leporino) e alteração no desenvolvimento neurocomportamental. Após o nascimento observa-se maior risco de morte súbita neonatal, asma e infecções respiratórias. Além disso, a nicotina passa para o leite durante a amamentação, podendo diminuir sua produção e contribuindo para ganho de peso inadequado do bebê. Além disso, as consequências continuam a longo prazo, sendo observadas maiores taxas de hiperatividade e comportamentos negativos em crianças e adultos que foram expostos ao tabagismo durante a gestação.

Conhecendo todos os malefícios à saúde e ainda as repercussões para o bebê, a gestação pode ser um estímulo para cessar o tabagismo. É importante conversar com o médico do pré-natal para decidir qual a melhor estratégia para conseguir parar de fumar. O tratamento deve ser individualizado, sendo importante o suporte da família, seguimento com terapia e, em alguns casos, tratamento medicamentoso.

Aproximadamente 54% das mulheres param de fumar na gestação, porém 60% delas retornam após um ano do parto. Por isso é importante manter o seguimento com suporte adequado durante o pós parto para garantir que seja uma medida permanente e que a mulher não volte a fumar.