Escrito por Família Theia e Michele Melão (consultora de sono)

A criança acorda no meio da madrugada chorando, muitas vezes se debatendo e os pais ficam extremamente preocupados. Será que ela teve um pesadelo ou passou por um episódio de terror noturno?

Embora o comportamento seja parecido, são duas coisas bem diferentes e que precisam ser enfrentados de formas distintas.

A primeira coisa é entender um pouco mais sobre os distúrbios.

O que é o terror noturno e o que fazer?

O terror noturno é um distúrbio que se manifesta como um ataque e é muito mais raro do que os pesadelos. Teorias sugerem que acontece provavelmente pela imaturidade do sistema nervoso central da criança e pode acontecer por várias noites seguidas ou até mesmo ocorrer mais de uma vez em uma mesma noite. A criança se agita, se debate, chora, grita, muitas vezes anda, pode estar de olhos abertos, não responder aos estímulos externos e pode falar coisas incoerentes. A respiração acelera e a criança não reconhece os familiares. Mas, na verdade, ela está dormindo e esse episódio acontece na fase de sono profundo, a fase Não-REM ("Rapid Eye Movement" ou movimento rápido dos olhos - fase do sono com intensa atividade cerebral).

Esse distúrbio acontece com cerca de 5% das crianças e é mais frequente dos cinco aos sete anos, mas pode começar a partir do primeiro ano de vida. Outra característica é o tempo do ataque: em média 15 minutos.

Aqui, o ideal é manter a calma e procurar auxílio da medicina se os casos forem frequentes. O terror noturno não deixa traumas porque a criança não se lembra do episódio e estudos mostram que não atrapalha seu desenvolvimento. Fique ao lado do seu filho(a), já que a criança pode se machucar durante a crise e espere o ataque passar. Mantenha a calma e não tente acordá-lo.

Não há comprovação, mas muitos estudos indicam que pais sonâmbulos ou com sonilóquio (pessoas que falam dormindo), têm mais chances de ter filhos com terror noturno.

Uma grande diferença entre esse distúrbio e o pesadelo é que o terror noturno tende a acontecer no início da noite, diferentemente do pesadelo, que pode ocorrer a qualquer momento, pois acontece durante o sono REM (ciclo que se repete de 4 a 5 vezes durante a madrugada).

O que fazer em caso de pesadelos?

Pesadelos são apenas sonhos, geralmente ligados ao que acontece durante o dia da criança e sem necessidade de tratamento médico. Um filme ou desenho na televisão ou uma história mais assustadora contada durante o dia pode aumentar a chance da criança ter um pesadelo. Normalmente, a criança acorda muito assustada e, diferentemente do terror noturno, lembra-se do sonho depois de acordar e também no dia seguinte.

Outra grande diferença é a incidência. Pais de cerca de 40% de crianças entre 3 e 5 anos relatam episódios de pesadelo, e estudos revelam que cerca de 80% dos sonhos podem promover sensações ruins, e assim ao invés de sonho, são chamados de pesadelos.

Algumas crianças não choram durante o pesadelo, mas sim ao acordar. Nestes casos, o melhor a fazer é atender e acalmar seu filho. Explique que foi um sonho, fique com o seu filho até que ele durma de novo, conte uma história leve e engraçada, assim você irá tirar o foco da criança do sonho ruim. Lembre-se de que nos pesadelos, as crianças ficam em estado de alerta, com um sentimento forte de ansiedade, medo e opressão.

Tente inserir um objeto de transição para dar mais segurança à criança e sempre tenha uma rotina de sono relaxante.

Semelhanças entre os dois episódios

  • O stress e o cansaço facilitam a ocorrência nos dois casos.
  • A febre pode estar relacionada à ocorrência de ambos.
  • A rotina da criança deve ser observada. Estudos mostram que crianças ansiosas ou muito reprimidas possuem maior tendência a apresentarem os distúrbios.

Raramente os distúrbios têm efeitos psicológicos negativos e duradouros sobre as crianças, mas podem gerar dúvidas e sofrimento para a família, então é sempre importante procurar orientação.