Escrito por Família Theia e Aline Hessel (psicóloga e educadora parental)

Diante da evolução da transmissão da COVID-19 pelo mundo e das ações adotadas pelas autoridades nesse cenário, direitos e garantias a liberdades individuais foram restringidos, impondo situação de reclusão aos indivíduos em suas próprias residências. Nesse panorama, o acesso à maioria dos meios de distração, contatos sociais, lazer e satisfação de prazer da população ficou indisponível, levando o indivíduo a experimentar sentimentos negativos por um tempo prolongado.

Estudos mostram que o isolamento social e situações de calamidade pública são fatores de risco para o desenvolvimento e agravo de transtornos mentais: 45% dos adultos nos EUA tiveram sua saúde mental impactada (fonte: The Kaiser Foundation) e 34% dos americanos apresentam sinais de ansiedade e/ou depressão clínicas (fonte: The U.S. Census Bureau). Na população brasileira transtornos de humor e ansiedade vêm aumentando ano após ano, o que reforça a necessidade de ações de prevenção e tratamento para os agravos à saúde mental, principalmente nesse momento.

Ao falar da ansiedade, deve-se saber que ela pode ser manifestada de diferentes formas e está intimamente ligada ao estresse. Ou seja, no atual momento de incertezas sanitárias, econômicas e sociais, esse cenário se torna um prato cheio para diferentes manifestações da ansiedade. Crises de ansiedade ou pânico, medos excessivos, coração acelerado sem motivos físicos, bem como doenças somáticas como vitiligo, dermatites, queda de cabelo, enxaqueca, entre outros sintomas, são possíveis manifestações da ansiedade. A pessoa passa a ficar constantemente preocupada, até mesmo com situações que não precisaria, antecipando situações futuras somadas a consequências catastróficas. Atualmente o Brasil é o país que tem a maior taxa de transtornos de ansiedade do mundo, sendo esta uma das principais causas de afastamento laboral (OMS, 2017).

Uma vez que o isolamento social e as incertezas futuras são uma realidade no atual momento, acredita-se que favorecerão o adoecimento psíquico da população. Dessa forma, faz-se necessário, com urgência, a identificação de tendências e de mudanças na saúde mental dos funcionários em decorrência dos efeitos sociais e psicológicos da pandemia, uma vez que o adoecimento psíquico gera queda do desempenho, afastamento laboral e eleva as chances de suicídio. A ausência de ações de prevenção e tratamento eficaz de transtornos mentais nas empresas poderá acarretar em prejuízos materiais e imateriais.

A seguir algumas orientações aos gestores sobre estratégias para lidar com a ansiedade e cuidados com a saúde mental da equipe durante e após o isolamento social.

1. Garanta um retorno seguro

  • Ofereça treinamentos. Quanto mais aptos e seguros os funcionários estiverem com as novas diretrizes, melhor seu desempenho e sentimento de segurança;
  • Conhecimento sobre a doença e treinamento sobre o uso adequado do EPI é premissa para a estabilidade emocional da equipe.

2. Monitore as cargas horárias e turnos

  • Se possível, alterne os trabalhadores entre atividades de alta e baixa tensão;
  • Os trabalhos devem ser realizados em turnos definidos, com descanso regular. Monitore pessoalmente ou delegue a alguém esta função, para que os tempos de descanso sejam respeitados.

3. Se necessário, replaneje as ações e seja transparente na comunicação

  • Replaneje as ações no trabalho e construa metas realistas;
  • Tenha clareza e transparência sobre os próximos passos a serem tomados na instituição;
  • Garanta uma comunicação de boa qualidade. As atualizações precisas das informações podem ajudar a atenuar as preocupações com as incertezas que os trabalhadores têm e ajudam a proporcionar uma sensação de controle;
  • Realize reuniões periódicas com a equipe, onde as questões que surgirem possam ser faladas por todos da equipe.

4. Mostre proximidade e abertura para equipe

  • Liderança positiva traz segurança e maior adesão às diretrizes propostas;
  • A proximidade dos gestores com seus colaboradores é de grande importância para a saúde mental de todos;
  • É fundamental que os trabalhadores confiem em seus gestores. Quanto maior a confiança, maior a capacidade de resposta.

5. Garanta o bem-estar da sua equipe

  • Incentive sua equipe a ter cuidados com a saúde (mental, atividade física e alimentação);
  • Reforce a importância das redes próprias de apoio das comunidades, igrejas, clubes, amigos e familiares;
  • Faça um acompanhamento relativo ao bem-estar da equipe de forma regular, deixando-os à vontade para falar sobre seu estado mental e sua capacidade de trabalho.

6. Motive sua equipe

  • Reconheça cada esforço feito e estimule o incentivo mútuo entre os profissionais;
  • Não responsabilize individualmente o trabalhador que não estiver conseguindo lidar com a situação, isto é comum neste contexto.