Escrito por Família Theia e Ricardo Franco Lemos (psicólogo)

É provável que todo homem tenha ouvido em algum momento de sua vida: "seja homem!". Essa frase pode ser interpretada como: seja firme, seja duro, seja bravo, seja guerreiro, não seja fraco. Costumam ouvir também: não mostre seus sentimentos, homem não chora, não leve desaforo para casa, entre outras coisas.

O que essas frases revelam sobre o papel do homem na sociedade? A construção do homem como conhecemos hoje vem sendo feita há milhares de anos e foi relacionada inicialmente à caça, ao prover, à vida pública, social e profissional, à competição, ao fazer e ao pensar.

Por outro lado, o papel feminino foi atrelado ao criar, cuidar e sentir, funções que ficaram atrofiadas no papel masculino. Com isso, desde a infância e ainda hoje, os homens não são estimulados a criar, cuidar e sentir, salvo algumas exceções. Quando os homens apresentam atitudes diferentes das esperadas, outros homens, ainda despreparados, os agridem.

As mulheres já vêm lutando há décadas para desenvolverem as funções e o papéis antes considerados masculinos. É um pouco mais recente vermos homens desempenhando funções antes ditas femininas. Apesar de alguns avanços, a visão de papéis femininos e masculinos ainda estão muito engessados na sociedade. A tentativa de mudá-los costuma ser vista como uma ameaça dessa estrutura.

Os resultados desse engessamento são muitos, um deles aparece na clínica psicológica. São raros os homens que buscam psicoterapia espontaneamente e, quando o fazem, tem grande dificuldade para dizer o que sentem e tendem a resolver seus conflitos emocionais com explicações racionais, pensando e agindo muito, mas sentindo pouco.

A dificuldade de entrar em contato com o próprio sentimento é tão grande que os homens comumente dizem “me sinto normal” quando são perguntados como se sentem, mesmo parecendo claramente tristes.

Os homens sofrem por não saberem olhar para os próprios sentimentos e por não se permitirem o cuidado, pois foram treinados para serem duros consigo mesmos e com os outros.

O primeiro passo para mudar essa realidade é entender que esse cenário faz parte de uma construção social que dura milênios e está cristalizada. No momento em que entendermos o que o conceito de masculino gera na sociedade, podemos mudar de conduta.

A psicoterapia tem ajudado os homens a olharem para seus sentimentos e aprenderem a ser mais acolhedores consigo e com os outros, práticas saudáveis para qualquer ser humano.