Escrito por Família Theia e Danielle Domingues (ginecologista e obstetra)

Infertilidade é a dificuldade de um casal engravidar após 1 ano tendo relações sexuais sem métodos contraceptivos ou 6 meses no caso da mulher ter 35 anos ou mais. Normalmente, a chance de um casal em idade fértil engravidar é de 15 a 25% por mês, sendo comum demorar alguns meses para ocorrer. Após um ano de tentativas, a taxa cumulativa é de 80%, por isso, após esse período é recomendado passar por avaliação médica para investigar adequadamente. Nas mulheres a partir de 35 anos, recomenda-se investigar num período menor devido à redução gradativa das chances de gravidez a partir dessa idade.

Como pode ser observado na imagem abaixo, para a gestação ocorrer, é preciso que a relação sexual ocorra próximo à ovulação (liberação do óvulo pelo ovário) e que os espermatozoides sejam capazes de passar pela vagina, colo do útero e útero até a tuba uterina da mulher, onde ocorre a fecundação (quando um espermatozoide penetra no óvulo). Após isso, o óvulo recém fecundado deve ir até o útero, onde se fixa na parede do útero (implantação). Assim, qualquer fator que altere esse processo, pode ser causa de infertilidade.

Infertility in couples (The Basics). UpToDate. 2020. Disponível em: <http://www.uptodate.com/online>. Acesso em: 18/05/2020.

Classifica-se a infertilidade como primária, quando não há gestação prévia, ou secundária, quando uma gestação já ocorreu anteriormente. Essa classificação pode auxiliar a identificar possíveis causas, que podem ser masculinas, femininas, de ambos ou, ainda, sem causa aparente (quando após investigação não são identificadas alterações).

A investigação deve ser realizada, idealmente, por ginecologista em conjunto com urologista a fim de avaliar corretamente o casal. Inicialmente, é importante saber os antecedentes pessoais, histórico e hábitos de cada um, além de realizar exame físico completo para identificar possíveis fatores que possam contribuir para infertilidade e após, solicitar exames complementares.

Nos homens, o principal exame a ser solicitado é o espermograma, que avalia a qualidade do sêmen, avaliando principalmente quantidade, forma e motilidade (capacidade de movimentação) dos espermatozoides. Em caso de alterações, podem ser necessários exames adicionais para localizar o problema, como exames de sangue (para avaliar a parte hormonal ou possíveis infecções), ultrassom da região genital, exame de urina (em casos de suspeita de ejaculação retrógrada, ou seja, quando o sêmen vai em direção à bexiga na ejaculação), biópsia testicular e até exames genéticos.

Nas mulheres, é importante avaliar todos os setores possivelmente envolvidos: ovários (ex.: alteração ou ausência de ovulação, que pode ocorrer em casos de síndrome dos ovários policísticos, obesidade, anorexia e falência ovariana precoce); tubas uterinas (ex.: obstrução devido a aderência por infecções pélvicas ou cirurgias prévias e endometriose); útero (ex.: presença de septos, pólipos ou outras alterações na cavidade uterina) e alterações hormonais (ex.: aumento de prolactina e alterações na tireoide).

O tratamento para infertilidade depende da causa identificada, podendo ser indicado cirurgias ou medicamentos para correção, ou serem necessários tratamentos de infertilidade, sendo os principais:

  1. Indução de ovulação

Normalmente é a primeira opção para mulheres que não ovulam regularmente. O objetivo é estimular a produção de óvulos com medicação e programar a relação sexual no dia da ovulação para aumentar as chances de gravidez. Se possível, o ideal é acompanhar o crescimento do óvulo com ultrassom.

2. Inseminação intrauterina

Procedimento no qual é realizada a inserção dos espermatozoides dentro do útero próximo à ovulação. Em alguns casos, pode ser realizado em conjunto com a indução da ovulação.

3. Fertilização in vitro (FIV)

Normalmente indicado em casos de obstrução ou ausência de tuba uterina, quando há alteração nos espermatozoides ou na falha de outros tratamentos para fertilização. Neste caso, a fecundação do óvulo pelo espermatozoide é feita fora do organismo da mulher. Inicialmente são prescritos hormônios para estimular o crescimento dos óvulos (acompanhado pelo ultrassom), quando atingem o tamanho ideal, logo antes da ovulação, é realizada a captação deles (com uma agulha pela vagina, normalmente em centro cirúrgico com sedação). Em seguida, os óvulos são colocados junto com os espermatozoides do parceiro numa placa de laboratório (meio de cultura), onde ocorre a fecundação e formação dos embriões. Após 2 a 5 dias, um ou mais embriões são colocados dentro do útero da mãe e espera-se que eles implantem na parede do útero e se desenvolvam. Para confirmação é solicitado exame de gravidez, normalmente após 2 semanas.

4. Injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI)

Técnica indicada nos casos de baixa produção de espermatozoides ou ausência dela, sendo possível captar espermatozoides diretamente do testículo, se necessário. É semelhante a FIV, porém apenas 1 espermatozoide é inserido dentro de cada óvulo.

É importante lembrar que nenhum tratamento tem garantia de sucesso, podendo não ocorrer gestação mesmo após vários procedimentos. Por isso, é importante conversar com o médico sobre os resultados esperados, além de avaliar os riscos e benefícios envolvidos para decidir se o tratamento é indicado para o casal e qual a melhor técnica a ser escolhida.